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30/10/2024
Nosso entrevistado é Ruben Antonio Bisi, presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Ônibus (FABUS), entidade fundada em 1959 e que defende a indústria encarroçadora de ônibus, ele também acaba de assumir o cargo de diretor de Relações Institucionais da Marcopolo, fabricante que é referência mundial na fabricação de carrocerias de ônibus.
Ele atendeu ao pedido de entrevista da Revisa Sou + Ônibus, juntamente com a participação da Rádio Ônibus, para falar um pouco do momento do mercado, entre outros assuntos.
Falando direto da sede da Marcopolo, em Caxias do Sul, no estado do Rio Grande do Sul, região que também foi afetada pela pior enchente da história do estado, ele inicialmente nos deu uma ideia de como tem sido difícil reconstruir a vida e principalmente, a esperança das pessoas.
Calcula-se que, em 447 municípios, mais de 2 milhões de pessoas tenham sido afetadas diretamente de alguma forma pela tragédia, que deixou 80 mil pessoas em abrigos, meio milhão de desalojados, 178 mortos e mais de 30 ainda estão desaparecidos, além de milhares de animais atingidos e atividades econômicas, de todas as áreas paralisadas.
SOU + ÔNIBUS – Presidente, antes de mais nada, nossa solidariedade neste momento. Como vocês estão aí no RS? Conte um pouco pra nós, que mal podemos mensurar a situação…
Rubem Bisi – Muito obrigado por perguntar. Eu, além de ser o presidente da FABUS, sou vice-presidente da Câmara da Indústria e Comércio aqui de Caxias e também vice-presidente de um sindicato que abrange 17 municípios, é o segundo maior sindicato automotivo e de metal mecânico do país, então temos 4100 empresas associadas e os relatos são os piores possíveis.
SOU + ÔNIBUS – Daqui nos parece um cenário de guerra…é isso mesmo?
Rubem Bisi – A situação de inundação atingiu 70% dos municípios gaúchos, some-se aí, desmoronamento, queda de vias de acesso, estamos aqui em Caxias e para vocês terem uma ideia, hoje (17/05/2024), 50% do nosso pátio fabril ainda está embaixo d’água. Em cinco dias choveu mais que meio ano, seis meses de chuva, é muita água! As nossas indústrias estão localizadas nos vales, próximas às serras. Foi uma catástrofe maior ao furacão Katrina, não em número de mortes, felizmente, mas em número da dimensão afetada.
SOU + ÔNIBUS – Quais os primeiros passos para se enfrentar uma situação como essa?
Rubem Bisi –Tivemos que criar um plano de ação em que a prioridade era resgatar as pessoas, em segundo lugar, abrir as vias para o trânsito de material hospitalar, acesso aéreo, aquático e terrestre para salvarmos os feridos, que foram muitos.
O terceiro ponto é estabelecer o acesso a regiões que ainda estavam isoladas. Outro problema grave foi a falta de energia elétrica, regiões embaixo d’água e sem energia elétrica e aí, o que você faz?
SOU + ÔNIBUS – Houve uma mobilização nacional em prol das vítimas, com doações diversas, qual foi o impacto disso?
Rubem Bisi –As doações que vieram de toda parte do país, a maioria com alimentos e roupas que, com certeza, vai nos possibilitar que ninguém morra de fome, graças a Deus, nem de frio, porque o frio começou a bater por aqui também. O frio aqui é muito rígido. Agora é esperar o nível das águas baixarem ao normal, restabelecer as grandes rotas de infraestrutura, porque elas foram afetadas, tem regiões em que municípios foram alagados três vezes seguidas então é um plano de reconstrução imenso. Precisamos focar também nos pequenos negócios nas casas das pessoas e planos estratégicos de cidades, esse vai ser um fator importante é muito recurso que vai ser necessário para fazer toda essa reconstrução e não é com recursos do estado que vamos conseguir recuperar toda essa malha produtiva que o Rio Grande do Sul tinha.
Tem coisas que a mídia não mostra, por exemplo, o cheiro é inimaginável, animais mortos e os alimentos que haviam dentro de casa, vegetação apodrecendo, é uma grande preocupação fazer toda essa limpeza, é muito complicado, é um desastre que nunca foi visto.
Mas vamos nos recuperar com força, resiliência, o Brasil tem dado uma demonstração de solidariedade grandiosa, só temos a agradecer todo esse apoio.
SOU + ÔNIBUS – Esperamos que vocês se recuperem o quanto antes. Agora, falando um pouco do mercado, o governo anunciou o PAC da Mobilidade, como os fabricantes receberam esse anúncio?
Rubem Bisi – O PAC é um movimento importante porque hoje, no transporte público, se fala muito em descarbonização, e a aquisição de um ônibus elétrico tem um custo bastante elevado. Esse veículo tem uma série de vantagens: melhoria da saúde pública, o conforto, menos ruído nas cidades, mas as empresas não têm o dinheiro necessário para comprar esses ônibus e não podemos transferir para tarifa pública que já é muito alta, ela compromete muito o salário do trabalhador,então o PAC pode fazer com que as prefeituras possam adquirir ônibus elétricos e a diesel também, estão previstos 2529 ônibus elétricos e 2782 ônibus a diesel, em que as prefeituras possam comprar com taxas de juros adequadas É um programa interessante, foi lançado agora e sendo regulamentado. As primeiras licitações para as compras de alguns veículos, é uma forma de incentivar a 61 cidades que se cadastraram a comprarem os veículos ‘descarbonizados’ através de um fundo gerido pelo Ministério das Cidades.
SOU + ÔNIBUS – E como está o mercado em 2024, estão otimistas para o segundo semestre?
Rubem Bisi – Já prevíamos um aumento de 20 a 25% no número de produção, em relação ao ano passado, por dois fatores: a questão do programa Caminhos da Escola, que tinha aí previsto uma compra de 15 mil e trezentas unidades, também já sinalizados lá atrás, mas a dinâmica é que se as prefeituras não compram os operadores teriam que comprar esse veículo, então não é uma compra adicional, só muda o elemento que vai comprar.
SOU + ÔNIBUS – Quando se fala em descarbonização, parece que a eletrificação é sempre destacada e esquecemos outras possibilidades, o senhor concorda com isso?
Rubem Bisi – Essa é uma pergunta importante, realmente não podemos cair nos modismos e dizer que uma solução é boa para todas as cidades e sistemas. Eu sempre digo, como presidente da FABUS, que cidades com mais de um milhão de habitantes têm que olhar a saúde pública, para o ruído das cidades, para o calor, a velocidade da transição e nesse aspecto os ônibus elétricos são insubstituíveis, neste primeiro momento. Agora, não faz sentido nós querermos colocar ônibus elétricos em todas as cidades ou em todo o país e falar que a solução é o ônibus elétrico. Temos que falar em veículos com tração elétrica que cumprem boa parte desses requisitos, mas com energia sustentável e renovável. Também se fala muito em acabar com os veículos de combustão interna, como se fosse apenas girar uma chave e não acho que o Brasil é tão rico que possa fazer isso dessa forma tão simples.
Por Marcelo Valladão e Henrique Estrada, confira a íntegra na edição 45 da Revista Sou + Ônibus.
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