Em meio ao caos, a resignação, a resiliência e a superação

10/03/2024

Em meio ao caos, a resignação, a resiliência e a superação

Por Antonio Ferro; Edição Marcelo Valladão

 

As chuvas que caíram demasiadamente sobre o Rio Grande do Sul, em maio passado, atingiram diversos setores da economia local, entre eles as empresas de ônibus, implicando diretamente as operações de algumas.

 

Um antigo samba cairia bem neste momento em que tudo tenta voltar ao normal após uma tragédia de larga escala que se abateu sobre o Rio Grande do Sul há poucos meses, com consequências nefastas a toda a sociedade gaúcha. Na letra da música “Dar a volta por cima” (Paulo Vanzolini), uma das estrofes cita “Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”, podendo ser muito bem empregada pelos envolvidos com as enchentes no anseio de recuperação.

 

Sem esmorecer frente aos desafios nada alentadores, com impactos diretos causados aos seus cotidianos, algumas empresas de ônibus atingidas sentiram “na pele” os efeitos ocasionados por algo só visto em 1941, vivendo momentos desoladores, em que o fim de tudo parecia ser anunciado sob a forma da água invadindo os seus bens mais preciosos.

 

Alguns dias depois de as águas baixarem, os locais atingidos pela tragédia foram descritos com um profundo desânimo por aqueles que atuam para proporcionar o melhor transporte. O que se viu nada se comparava com a ordem e a determinação do trabalho dedicado há muitos anos. A destruição tomou conta de tudo, seja dos veículos (ônibus), seja da infraestrutura necessária para a operação.

 

Com cerca de 300 ônibus em sua frota, a operadora Turis Silva teve 51 veículos prejudicados pela enchente que atingiu a sua garagem, localizada próxima ao aeroporto de Porto Alegre. Carina Silva, diretora, relatou um momento para ser esquecido, sendo desesperador em função do que foi provocado pelas fortes chuvas. “Meu pai, Jaime Silva, fez de tudo para tirar os ônibus da garagem, distribuindo-os em outros pontos. Contudo, pela disponibilidade dos poucos motoristas que conseguiram chegar ao local, esses 51 veículos acabaram ficando nos alagamentos, que atingiu 2,10 metros”, contou ela.

 

Carina destaca os esforços hercúleos promovidos pelos envolvidos com a empresa para tentar reduzir os impactos da enchente, sendo que a força de vontade e a luta contra o clima prevaleceram nessa empreitada. “Em meio às enchentes, que prejudicaram as nossas operações, tivemos que adaptar o nosso setor administrativo, montando bases de apoio para realizarmos todos os processos, desde o financeiro, a fim de cumprir com as nossas demandas de pagamentos, até o apoio aos nossos colaboradores, pois tivemos mais de 80 funcionários atingidos pela catástrofe”, ressaltou.

 

Após as águas baixarem, o rastro de destruição deixou claro que a percepção de perda causou um forte impacto, com imagens marcantes em todas as áreas da garagem, não sobrando quase nada em termos de materiais e componentes utilizados no cotidiano da operadora. Emocionada, Carina comentou que a força interior de seu pai, Jaime, foi determinante para enfrentar os problemas e os desafios impostos pelo clima, lutando de maneira incansável para vencer e tentar salvar algo que ainda pudesse ser reutilizado. “A resiliência e a importância das pessoas que estiveram ao nosso lado nesses momentos conturbados foram essenciais para sobrevivermos em meio ao caos. Muitos de nossos colaboradores, mesmo atingidos pelas enchentes, não nos deixaram na mão, trabalhando incansavelmente e engajados com a nossa luta de recuperação.”

 

Até hoje acontece o processo de recuperação desses 51 ônibus, seja mecânico, seja na carroçaria. “Só recuperamos 15 veículos, até agora. Nossas equipes têm trabalhado para colocar em operação esses ônibus. E, neste momento tão difícil, tivemos o apoio da Marcopolo, que tem fornecido kits de peças de reposição das carroçarias de acordo com os níveis de estrago de cada uma delas. Só tenho a agradecer à Marcopolo pelo suporte, tão essencial. Ela é uma parceira fora de série por permitir a nossa recuperação”, destacou Carina.

 

E uma pergunta que não quer calar: há o medo de que essa situação se repita no Rio Grande do Sul? A diretora da Turis Silva contou que a empresa mudou sua garagem para fora de Porto Alegre, instalando-se na cidade de Esteio, região metropolitana. “Saímos de uma área com 14 mil metros quadrados para 38 mil metros quadrados. Precisávamos expandir as nossas instalações, pois onde estávamos ficou pequeno para as nossas demandas. Ainda estamos investindo na adaptação da estrutura necessária para os nossos serviços. Outro detalhe é que estamos próximos às principais rodovias que nos dão total condição de operação e atendimento aos nossos clientes”, afirmou Carina.

 

Outra operadora que sofreu as consequências das enchentes foi a Viação Ouro e Prata, que atua no segmento de linhas rodoviárias regulares no estado gaúcho. Naquele momento em que tudo se mostrou perdido, estando os ônibus debaixo d’água e a infraestrutura da garagem em estado de calamidade, o sentimento de uma força interna maior foi capaz de superar os acontecimentos.

 

Luana Fleck, diretora da empresa, disse que a união e o compromisso dos colaboradores foram fundamentais para que a Ouro e Prata continuasse operando e atendendo seus clientes, sendo que um grande diferencial de tudo isso são as pessoas. “Temos um time altamente comprometido, que, mesmo diante de tantas dificuldades, permaneceu unido e focado na operação, garantindo que a empresa não parasse. Além disso, a Ouro e Prata é uma empresa do Brasil, e mesmo com o impacto significativo no Rio Grande do Sul, nossas operações em outros estados continuaram a rodar, assegurando que nossos serviços chegassem a todos os nossos clientes com a qualidade e o compromisso de sempre.”

 

A matéria completa você lê no link da edição 46 da Revista Sou + Ônibus.

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